Dizem que agora a beleza é livre. Que cada uma pode ser como quiser.
Mas basta abrir as redes sociais pra descobrir que “ser como quiser” tem filtro, harmonização facial, rinoplastia e o combo do consultório: lábios inflados, queixo projetado e bichectomia pra parecer “naturalmente” bonita.
A cara da liberdade ficou com a mesma cara da vizinha, da Kardashian, das infinitas influenciadoras e da dermatologista da esquina.
O corpo, esse coitado, virou palco de guerra (e de quebra ainda leva a mente junto nessa fria).
Ou você o massacra com dieta mega restritiva, whey, lipo LAD e sei lá mais o quê, ou então vira guru de aceitação em nome de uma liberdade que ninguém banca, exceto a blogueira: essa lucra pra caramba vendendo autoestima em cápsulas. Literalmente.
Enquanto umas perdem suas personalidades tentando se encaixar, outras se escondem atrás da desculpa do “me amo como sou” pra justificar hábitos que não têm nada de amor.
Amar o próprio corpo não é deixá-lo adoecer em paz.
Eu, pessoalmente, vivo brigando com a balança desde que me entendo como mulher. É um saco. Cansativo. Dietas? Afff…
Por exemplo, hoje tenho pavor das marcas do meu pescoço, frutos de um tumor na tireoide que me deixou com “pneus” onde antes maxi colares eram ostentados. Não gosto dos meus braços “de polenteira” e desejo um dia ter a disposição suficiente para sair da minha zona de conforto e afinar essa joça.
Admito que a eterna insatisfação talvez seja o destino de quem passou a vida sendo ensinada a criticar o próprio reflexo. Porém, posso dizer que sim, tenho inseguranças com a minha imagem, mas a preguiça de “sempre parecer impecável” não me permite ter a vida centrada em como vou sair numa foto. Sorte? Não sei.
Apesar de não ser do time das viciadas em intervenções estéticas (mas não sou contra elas, ao contrário, com ponderação, todas nós deveríamos melhorar nossa imagem, se assim desejarmos), e nem das que se largam completamente - embaladas por famosas do “Amor Próprio” que, na primeira oportunidade, vão se injetar para emagrecer e aqui, novamente: cada uma faz o que quiser, mas é um desserviço pregar algo e fazer o contrário - me incomoda que a tal “liberdade estética” virou obrigação disfarçada. Consumo desenfreado.
Se não quiser fazer nada, você é relaxada. Se fizer demais, é desesperada.
No fim, só é elogiada mesmo se parecer “natural sem esforço e sem poros” - mesmo a Bonita tendo gastado três salários mínimos e metade de um rim pra isso.
Geralmente, nós mulheres sucumbimos à pressão interna, externa e das parcelas que vão ser feitas na hora de sustentar toda essa aparência.
E novamente: não há problema em querer se cuidar. O problema é quando o cuidado vira vício, obsessão e falta de essência.
Sua testa pode até não mexer mais, mas não deixe o seu senso de proporção ir embora.
Sabemos que humanos são seres que buscam pertencimento e aceitação. No entanto ver meninas jovens se submetendo, desde crianças, às mil tendências de beleza$ para ter um valor “social” é triste. Acabam engolidas por uma insegurança fora do normal e reféns da aprovação alheia via likes.
Os anos 90 e 2000 já foram um cenário caótico, então não desejo pra minha filha uma realidade pior do que a que eu tive. Porque agora, a moda passageira que transforma jovens corpos e mentes vem na velocidade do 5G.
Sem contar as mulheres que buscam a juventude eterna a qualquer custo: inclusive pagando com a própria saúde, quando caem nas mãos de charlatões.
Ver a glorificação do desleixo orgulhoso e lucrativo também não é o que eu esperava para essa década.
Ninguém precisa se esconder ou ter vergonha de não ter um corpo “perfeito” (isso vale pra ti também, Dona Renata), mas fico sem palavras com modismos como Mukbang (onde pessoas comem compulsivamente online para outros assistirem esse show de horrores) ou fulaninha berrando como é maravilhoso ser obesa, apenas “vantagens” enaltecidas para o seu público. Dependendo da influenciadora, eu não vejo verdade alguma nessa aceitação, ao contrário, pura exploração da fragilidade alheia.
Gente... nenhum extremo é vantajoso. Deveríamos já ter ciência disso.
Eu acho que beleza de verdade, aquela que sustenta um olhar, um riso, um bom papo… essa não dá pra comprar com Pix.
Nem parcelar no cartão. E muito menos colar com cola cirúrgica.
A beleza que eu almejo e que vejo como ideal, de verdade - é ter coragem de não seguir a manada: nem das exageradamente plastificadas, nem das autoindulgentes, vítimas da própria narrativa.
É cuidar com amor, com consciência.
Num mundo de extremos, ser equilíbrio é um ato de rebeldia.
Então quem quiser um preenchimento aqui ou ali, uma injeçãozinha emagrecedora acolá ou apenas se amar usando números maiores e feliz com seu sorvetinho, que seja pra se enxergar melhor no espelho da vida e não pra sumir dentro do molde da tela do celular.
No final das contas, a única coisa que precisa de harmonização é o bom senso.
Perfeito! Equilíbrio é tudo nessa vida!
Realmente...seus fechamentos são a cereja ro bolo.